Pesquisadora analisa como os dicionários retratam a linguagem popular na atualidade

Postado por: Joao Doarth

Como identificar e categorizar as linguagens peculiares de cada região? No Brasil, país de dimensões continentais, a presença de diferentes culturas pode ser facilmente detectada e admirada quando pensamos em nossas linguagens populares, mas sua caracterização em dicionários e em outras obras lexicográficas ainda é um pouco complexa.

Para analisar como esse processo ocorre, a professora Daniela de Souza Silva Costa, que atua no curso de Letras do campus de Aquidauana da UFMS, está pesquisando o tratamento que os dicionários têm dado, atualmente, aos dados geolinguísticos brasileiros. A pesquisa já está em andamento e foi intitulada como “Interfaces entre a Lexicografia e a Dialetologia: o tratamento lexicográfico de dados geolinguísticos“.

A pesquisadora conta que o objetivo da pesquisa é investigar as possíveis interfaces entre a lexicografia (trabalho de elaboração de dicionários, vocabulários e afins) e a dialetologia (estudo dos dialetos feito a partir do levantamento de traços regionais de uma língua). Além de investigar tais ligações, também é realizada a comparação com trabalhos dialetológicos e geolinguísticos (área que estuda as línguas em seu contexto geográfico).

Daniela atua principalmente nas áreas de lexicografia e dialetogia (clique para aumentar)

Inicialmente, Daniela nos conta que as análises são feitas letra a letra, usando diversas obras para embasamento. Há também um enfoque especial sobre os dialetos falados na região centro-oeste do país. “O projeto de pesquisa foi originado a partir dos resultados de uma tese de doutorado, e com base nela estipulamos os parâmetros para tratamento dos dados em análise. Já catalogamos as primeiras unidades léxicas documentadas no Atlas Linguístico de Mato Grosso do Sul, iniciadas com as letras A, B e C, restando agora sua comparação com as obras lexicográficas”, conta a docente.

Em um primeiro momento, estão sendo analisados dicionários de cunho geral, como Houaiss (2009) e Ferreira (2004). “Os registros que tragam alguma informação diatópica, ou seja, caracterizados por certa diferença geográfica, são comparados aos dados dos atlas linguísticos consultados. Para isso, utilizamos as versões eletrônicas mais recentes das obras, além dos atlas linguísticos estaduais, regionais e o volume II do Atlas Linguístico do Brasil”, diz Daniela.

A produção lexicográfica não é um tema recente. De acordo com a pesquisadora, há mais de 2.000 anos antes Cristo já se nota a relevância de se conhecer a forma como as sociedades se comunicam, bem como suas línguas e as interações entre as nações. Contudo, a lexicografia como disciplina teórica surgiu apenas no século XX. “A partir das produções e de diversos materiais, começa-se a discutir, no século XX, a lexicografia enquanto disciplina teórica. Neste campo científico, começamos a estudar como os dicionários de diferentes tipologias utilizam a teoria lexicográfica para planejar seu projeto. Analisamos, por exemplo, a composição dos verbetes, principalmente quanto às marcas de uso geolinguísticos presentes em cada um deles”, conta Daniela.

Obras lexicográficas, como dicionários, historicamente ajudam a sociedade a se comunicar (clique para aumentar)

Entre os principais valores deste estudo, Daniela elenca três eixos como foco: investigar como os falares são documentados (ou não) em dicionários gerais da língua, favorecer uma aproximação entre os dicionários e a língua em uso no país e ajudar os consulentes a conhecerem a língua fala de fato no Brasil.

Daniela finaliza explicando que, ao conduzir este estudo, tem como um de seus objetivos divulgar a importância do trabalho geolinguístico. “Nossa intenção é propor parâmetros para o tratamento de dados geolinguísticos por obras lexicográficas, auxiliando neste campo e, também, disseminando a importância dos trabalhos geolinguísticos para o conhecimento da norma em uso. O projeto está filiado ao Atlas Linguístico do Brasil e estabelece o campus de Aquidauana como centro de pesquisas em lexicografia, ao lado de Campo Grande e Três Lagoas, interagindo com ambos os programas de pós-graduação”.

Interessados em saber mais sobre a pesquisa podem entrar em contato diretamente com sua coordenadora, Profa. Daniela de Souza Silva Costa, pelo e-mail souza.costa@ufms.br.

Texto: João Doarth