Intolerância: pesquisa investiga a violência de gênero no centro-oeste brasileiro

Postado por: Joao Doarth

Intolerância. A falta de compreensão que, por vezes, expressa-se com atitudes agressivas ou odiosas. Um comportamento que, ainda hoje, tem se apresentado cotidianamente, afetando diferentes realidades sociais.

Em um dos ângulos da intolerância, encontramos os discursos e práticas de violência de gênero, assunto histórico, atual e que tem sido objeto de estudo de diversos pesquisadores brasileiros. O professor e pesquisador Aguinaldo Rodrigues Gomes é um deles.

Aguinaldo é Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisador e professor no campus de Aquidauana da UFMS, onde atua tanto na graduação – principalmente no curso de História – como na pós-graduação – no Mestrado em Estudos Culturais. Especialista na área, o docente nos contou um pouco sobre uma das pesquisas que coordena atualmente, intitulada “Dispositivos da intolerância: discursos e práticas de violência de gênero na região centro-oeste“.

Com o intuito de investigar as distintas formas de violência de gênero, cometidas contra sujeitos excluídos pelos discursos e práticas contemporâneos, o pesquisador se propôs a construir um mapeamento da violência de gênero no centro-oeste brasileiro. E nesta missão, ele tem contado com importantes parceiros institucionais. “Além dos professores e alunos do nosso campus, este projeto interinstitucional também conta com a importante parceria de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Rondonópolis, e da Universidade Federal de Goiás, campus Jataí”, afirma o docente.

Katia (à esquerda) e Aguinaldo (à direita) apresentaram a pesquisa durante o Integra 2019 na UFMS (clique para aumentar)

A pesquisa possui etapas bem determinadas, conferindo a devida fidelidade ao tema. São reunidos tanto dados acadêmicos, elaborados por pesquisadores conceituados na área, como dados estatísticos, diretamente de órgãos públicos responsáveis pelos cuidados relacionados à violência de gênero e segurança pública. “Fundamentamos a pesquisa no campo teórico dos estudos culturais e, a partir das concepções de Michel Foucault e de dados de nossa revisão bibliográfica, partimos para a recolha documental. Essa fase envolve (i) levantamento dos dados acerca dos discursos de gênero e dos dispositivos de intolerância, em relação às performances de gênero nas mídias sociais, e (ii) levantamento dos dados sobre violência física, motivada por discriminação de gênero e sexualidade, com base em dados das secretarias estaduais de segurança pública e boletins de ocorrências das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) e da Casa da Mulher Brasileira”, ressalta Aguinaldo.

Diante desse cenário, o pesquisador também nos alerta para a atenção que deve ser dada à pauta, já que a violência de gênero ocorre em locais cotidianos. “A violência de gênero ocorre principalmente dentro de casa, evidenciando que o agressor é alguém muito próximo. De acordo com dados levantados nas DEAMs, 54% são maridos ou companheiros e 27% parentes (tios, avô, primo, etc.)”, diz o docente.

Pesquisa já resultou na publicação de um livro (clique para aumentar)

A pesquisa teve início em fevereiro de 2018 e já resultou em três dissertações de mestrado, dois trabalhos de conclusão de curso e um livro. Há, inclusive, trabalhos que destacam situações ocorridas na microrregião de Aquidauana (MS), como o trabalho de conclusão de curso da acadêmica Kátia Rosana Hernandes, denominado “Levantamento de dados acerca da violência de gênero na microrregião de Aquidauana/MS”. Publicações no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT e um livro, publicado pela Editora Devires, com o título “Corpos em trânsito: existências, subjetividades e representatividades“, também já podem ser conferidos.

Para finalizar, o professor revela a importância de pesquisas na área, principalmente para a conscientização da sociedade. Segundo o pesquisador, estudos como este auxiliam na formulação de políticas públicas importantes, responsáveis pela diminuição dos altos índices de violência encontrados. “A pesquisa é importante porque, a partir da análise dos dispositivos de intolerância, que se manifestam na mídia, de forma geral, e nas representações audiovisuais, nas leis, nas práticas sociais e, também, nos dados que coletamos, contribuímos para a conscientização de homens e mulheres sobre a igualdade de gênero. Isso impacta diretamente na formulação de políticas públicas, que objetivam diminuir os altos índices de violência existentes no centro-oeste brasileiro e, principalmente, no Mato Grosso do Sul”.

Além de Aguinaldo, participam da pesquisa os professores Miguel Rodrigues de Sousa Neto (UFMS), Helen Paola Vieira Bueno (UFMS), Raquel Gonçalves Salgado (UFMT), Carmem Lucia Sussel Mariano (UFMT) e Robson Pereira da Silva (UFG). Também estão envolvidos no estudo os acadêmicos Katia Rosana Hernandes (História UFMS), Julia Caroline Machado de Araujo (Pedagogia UFMS) e Antônio Ricardo Calori de Lion (Doutorado UNESP).

Interessados em saber mais sobre a pesquisa podem entrar em contato diretamente com o professor Aguinaldo, pelo e-mail aguinaldo.gomes@ufms.br.

Texto: João Doarth