I CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DO PANTANAL
O I Congresso Internacional de História do Pantanal, a ser realizado na cidade sul-mato-grossense de Aquidauana, no Auditório da Unidade 2 do CPAQ, no período de 16 a 19 de setembro de 2024, terá como tema “Guerras, Territórios e Povos Indígenas”. Pretende ser um evento bianual e em sua primeira edição contará com a participação de pesquisadores indígenas e não-indígenas que atuam em países que fazem parte do Mercosul. Será um evento aberto ao público em geral e a pesquisadores em diferentes níveis de formação acadêmica. Estará voltado à promoção de debates e ao compartilhamento de estudos e experiências sobre a história da região do Pantanal, a maior planície de inundação contínua do globo, bioma inserido na bacia hidrográfica do alto curso do rio Paraguai, onde também é chamado em países vizinhos de Chaco, assim verificado no Paraguai. Em termos cronológicos, o recorte escolhido abrange os períodos colonial e imperial da história do Brasil, isto é, de 1500 a 1889.
O período colonial, principalmente nos séculos XVI e XVII, é marcado por contatos interétnicos asimétricos entre ibéricos e indígenas, bem como pela disputa entre os impérios de Portugal e da Espanha pela posse da região pantaneira, o que não aconteceu sem a resistência dos povos originários ali estabelecidos desde temporalidades pré-coloniais. Dentre esses povos originários estão os falantes de línguas nativas vinculadas às famílias linguísticas aruák, guarani, guaicuru, guató, jê e zamuco, dos quais descendem os atuais Bororo, Guató, Guarani, Kadiwéu, Kaiowá, Kinikinao, Terena e outros. Também é marcado pela tentativa da Espanha de transformar os indígenas em vassalos do Rei, com o estabelecimento de povoados castelhanos e missões jesuíticas, além da imposição das encomiendas e a constante procura por metais preciosos. Portugal, por sua vez, estimulou a realização de incursões de bandeirantes pela região, os quais ali também estavam à procura de metais preciosos e, sobretudo, da captura de indígenas para serem escravizados e assim vendidos em São Paulo, onde eram conhecidos como “negros da terra”. Todas estas ações, dentre tantas outras, fizeram parte dos projetos coloniais ibéricos. Já no século XVIII, especialmente por conta da descoberta e a exploração de ouro no vale do rio Cuiabá, oficialmente iniciado na década de 1710, Portugal expandiu seus domínios por grande parte do Pantanal, de modo a ali constituir fortificações militares e povoados com uma população de origem europeia, indígena e africana, como é o caso de Cuiabá, Corumbá, Cáceres e Miranda.
No período imperial, por sua vez, iniciado no primeiro quartel do século XIX, houve diversos conflitos políticos, econômicos e territoriais entre os Estados-nações do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, daí resultando na guerra entre o Paraguai e Tríplice Aliança (1864-1870), o maior conflito bélico de toda a história da região platina, chamado na historiografia de “Guerra do Paraguai”, “Guerra da Tríplice Aliança“e outras denominações. Foi neste período, mais precisamente após esta guerra, que aumentaram a concessão de terras a favor de terceiros e a transformação de vastas extensões de territórios indígenas em áreas para a exploração extrativista e a constituição de fazendas de gado.
Disso tudo resultou em muitas transformações no Pantanal, quer seja na parte brasileira pertencente à então província de Mato Grosso, quer seja na porção paraguaia referente ao Departamento de Alto Paraguai ou na atual província boliviana de Santa Cruz.
Neste sentido, cumpre dizer que o evento terá inscrição gratuita on-line e presencial, sendo sugerida a cada pessoa inscrita a doação de pelo menos 2kg de alimentos não perecíveis, cuja arrecadação será totalmente destinada a comunidades indígenas existentes nos municípios de Anastácio e Aquidauana, doada diretamente a suas lideranças para que elas façam sua distribuição. O número máximo de pessoas inscritas para a participação presencial é de 400, não havendo limite para inscrições para a participação virtual, haja vista que as mesas redondas e conferências serão transmitidas on-line por mídias digitais, preferencialmente YouTube e Facebook. Em ambos os casos, haverá certificado de participação a todas os participantes do evento.
Texto: Paulo Esselin