Com foco na formação de professores, pesquisa busca dar voz a culturas invisibilizadas

Postado por: Joao Doarth

Para se discutir a formação de professores na atualidade, algumas áreas de estudo têm sido amplamente abordadas. E uma das áreas que se destaca é a Decolonialidade, proposta que buscar dar voz a culturas que foram invisibilizadas.

O termo “decolonial” indica, por sua vez, a contraposição à “colonialidade”. Trata-se de um movimento que incentiva a valorização de diferentes formas de pensar e de se expressar, que ganha destaque pela variedade de visões de mundo, pessoas, culturas e etnias existentes na sociedade.

Tendo essa proposta, professores do Campus de Aquidauana da UFMS, em parceria com pesquisadores de outras universidades, iniciaram um projeto em que o tema é abordado em conjunto com a formação de professores. A pesquisa, intitulada “Estudos decoloniais: perspectivas de diálogo e discussão de procedimentos teóricos e metodológicos latino-americanos nos cursos de licenciatura, adaptados à realidade multicultural do Brasil“, é coordenada pela Profa. Dra. Janete Rosa da Fonseca (UFMS/CPAQ) e será desenvolvida pelos próximos quatro anos.

Iniciado em setembro deste ano, o projeto de pesquisa já realizou sua primeira reunião. “Depois de aprovado o projeto, realizamos nossa primeira reunião, no dia 1 de outubro, pelo Google Meet. Tivemos a participação do Prof. Dr. Aguinaldo Rodrigues Gomes, que promoveu uma palestra sobre as aproximações entre teorias decoloniais e uma educação emancipatória. A partir dessa atividade, começamos a definir os grupos de trabalho, visando dar início à coleta de material, para posterior análise e publicação”, explicou a coordenadora da pesquisa, Janete Rosa da Fonseca.

Projeto teve palestra de abertura na última quinta-feira (01) (clique para aumentar)

Janete também nos conta que o intuito da pesquisa é desenvolver abordagens curriculares interdisciplinares e interculturais. “Esse é o ponto de partida para alcançarmos a interpretação da realidade a partir de uma Pedagogia Decolonialista, cujo processo se pauta na riqueza multicultural do Brasil, para que isso seja assumido nas atitudes dos professores de múltiplas áreas do conhecimento”, afirmou a pesquisadora.

Para se chegar aos objetivos propostos, os pesquisadores contarão com a parceria do Grupo de Estudos sobre Universalidade da Unemat/UFMT. Com isso, a metodologia da pesquisa já está bem definida. “A maior parte da pesquisa será desenvolvida por meio do estudo dirigido, com levantamento bibliográfico, realização de entrevistas e participação em eventos de outras instituições. O trabalho de campo acontecerá, inicialmente, com o levantamento de dados sobre os grupos de estudos decoloniais já existentes, bem como a análise de suas contribuições para os cursos de licenciatura. Em seguida, procederemos à pesquisa bibliográfica, para construirmos nossa fundamentação teórica e publicarmos os materiais que contribuam para a formação dos professores”, disse Janete.

A coordenadora da pesquisa faz questão de valorizar o objeto de estudo. Ela afirma que tais discussões são fundamentais para a formação do atual professor. “Pretendemos construir um espaço de discussão entre as principais vertentes intelectuais latino-americanas, dialogando os estudos decoloniais com outras propostas teóricas; esse é o nosso desafio. Os estudos decoloniais são uma forma de reivindicar a capacidade de criar novas maneiras de ver e estar em sociedade, uma vez que apenas uma única forma de interpretar o mundo implica numa redução e silenciamento de história subalternizadas e invisibilizadas. Acreditamos também na valorização dos conhecimentos locais, com seus próprios habitantes, buscando fontes empíricas e metodológicas no próprio território, na realidade local. Com isso, tornamos visíveis outras formas de pensar e de se expressar, possibilitando o pensamento crítico”, avaliou a docente.

A pesquisadora finaliza sua entrevista destacando o papel da proposta decolonial. “Existem tantas visões de mundo quanto pessoas, culturas e etnias, e nem sempre essas visões estão presentes, por exemplo, no mundo acadêmico. Tentamos tornar visíveis outras lógicas e formas de pensar, tais como os conhecimentos ancestrais, dos nossos povos indígenas. É um processo contínuo, de abrir perspectivas para se pensar desde o conhecimento local”, finalizou Janete.

Além da coordenadora da pesquisa, participam também diversos docentes e acadêmicos. Os professores que participam da pesquisa são Maria Neusa Gonçalves Gomes de Souza (UFMS), David Arenas Carmona (UFMS), Egeslaine de Nez (UFMT/CUA), Laudemir Luiz Zart (Unemat/Cáceres), Loriége Pessoa Bitencourt (Unemat/Cáceres), Reila Márcia Borges Rodrigues (Unemat), Waghma Fabiana Borges Rodrigues (Unemat/Cáceres), José Aldair Pinheiro (Unemat), Vanessa Gabrielle Weicolesco (Unila), Richele Timm dos Passos Silva (Ufpel) e Geovana Portela de Moura (Cefapro/MT). Já os acadêmicos que compõem a pesquisa são Raquel Silveira da Rocha Candellorio, Leisiane de Castro Cruz, Julia Caroline Machado de Araujo e Lidia Aparecida Cabral do Nascimento.

Esclarecimentos ou mais detalhes sobre a pesquisa podem ser obtidos diretamente com a coordenadora do projeto, Janete Rosa da Fonseca, pelo e-mail janete.fonseca@ufms.br.