Covid-19: Campo Grande e Aquidauana têm níveis de alerta máximo no MS; veja o relatório

Postado por: Joao Doarth

Índice de morbimortalidade da capital é 11,67. Aquidauana sobe para nível de alerta 5 e outros cinco municípios da macrorregião de saúde de CGR têm elevação para o nível de alerta 4. Seis dos 34 municípios da macrorregião de Campo Grande concentram 88% dos novos casos de Covid-19. Microrregião de saúde de Aquidauana e Sidrolândia integram o epicentro do novo coronavírus.

Longe de estar sob controle em Mato Grosso do Sul, a macrorregião de saúde de Campo Grande acende todos os níveis de alerta possíveis em relação à pandemia da Covid-19 e preocupa pesquisadores. Epicentro da doença no estado, Campo Grande atingiu níveis de morbimortalidade (iMM) elevadíssimos e registrou alta de 9,21 para 11,67 no índice, inserindo a capital num quadro pandêmico que ultrapassa todos os limites considerados razoáveis na metodologia utilizada pelos pesquisadores que compõem a Rede Geográfica de Análise da Covid-19 em Mato Grosso do Sul. Além do crescimento e manutenção dos indicadores em diferentes semanas epidemiológicas sem apresentar recuo em relação à doença, a situação se agrava considerando as interações geoespaciais: Aquidauana e Sidrolândia registraram aumento no número de casos e nos indicadores de morbimortalidade e também estão com alertas 5 e 4, respectivamente, conforme aponta o Mapa 1.

Aquidauana subiu de 4,59 para 5,82 e, como a capital, também está com nível de alerta 5. Sidrolândia registrou aumento de 4,26 para 4,46; Nioaque apresentou avanço da doença e saiu do iMM 2,16 (alerta 3) para 4,44 aumentando para 4 o nível de alerta. Miranda subiu de 3,15 para 4,31 (nível de alerta 4). Sidrolândia, Nioaque e Miranda caminham de forma acelerada para o nível de alerta 5, se nada for feito para conter a doença. “Chamamos atenção que na macrorregião de saúde de Campo Grande, além do município de Campo Grande, a microrregião de saúde de Aquidauana e Sidrolândia passaram a fazer parte do epicentro da pandemia no estado de Mato Grosso do Sul”, reflete a pesquisadora e professora da UFMS, Ana Paula Archanjo Batarce.

Além desse crescimento, Anastácio saiu do nível de alerta 3 para o 4 (de 2,18 para 2,81 de iMM) e Dois Irmãos do Buriti registrou aumento do iMM de 2,16 para 3,45, avançando para o nível de alerta 4. O Relatório Técnico: Geocartografia dos Indicadores de Morbidade e de Mortalidade por Covid-19 da Macrorregião de Saúde de Campo Grande, da 31ª à 33ª Semanas Epidemiológicas registra agravamento da pandemia nessa macrorregião sugerindo medidas urgentes para conter a velocidade da disseminação do novo coronavírus na macrorregião de Campo Grande, em especial na microrregião de Aquidauana. Os alertas e as recomendações têm sido feitas reiteradamente ao longo dos meses de julho e agosto.

Novos casos

Nioaque, Maracaju e Rio Verde apresentaram crescimento na taxa de incidência de novos casos entre a 31 e 33ª semanas epidemiológicas conforme a Tabela 1 e o Mapa 2 explicitam.

Letalidade

Ainda de acordo com o relatório, 8 municípios – Alcinópolis, com 25,00; Rio Negro, com 4,55; Corguinho, com 4,0; Dois Irmãos do Buriti e Camapuã, ambos com 3,45; Jardim com 3,39; Terenos com 3,30; Paraíso das Águas com 3,23 – apresentavam taxas de letalidade maior do que o dobro da taxa média estadual (1,55% em 15 de agosto). Os outros 7 municípios – Porto Murtinho com 2,94; Aquidauana com 2,92; Rio Verde de Mato Grosso com 2,83; Anastácio 2,68; Guia Lopes da Laguna com 2,01; Miranda com 1,90 e Nioaque com 1,73 – apresentaram taxa de letalidade maior do que a taxa média estadual (1,55% em 15 de agosto).

“Um desafio para elaborar diagnóstico da situação da Covid-19 se evidencia ao calcularmos a taxa de letalidade para os municípios da MRS de Campo Grande em que encontramos oito municípios que apresentavam taxas de letalidade maior do que o dobro da taxa média estadual (1,55% em 15 de agosto). Novos estudos devem ser feitos para melhor compreendermos as elevadas taxas de letalidade”, explicou o professor e pesquisador da UFMS, Cremildo Baptista, doutor em epidemiologia.

O professor da UFGD e pesquisador em Geografia da Saúde, Adeir Archanjo da Mota, explica que não adianta aumentar o número de leitos de UTI se não houver estratégia de contenção da doença no estado: “É preciso atuar no sentido de conter a velocidade da disseminação, o aumento no número de casos e, com isso, a redução das mortes por Covid-19 e SRAGs não específicas (grande parte Covid-19 não diagnosticada). Como fazemos isso? O mundo já mostrou o que surte efeito: medidas de prevenção efetivas, tais como fiscalização rigorosa para fazer cumprir os decretos, assistência social aos mais vulneráveis e, principalmente, medidas para promover o distanciamento social”. A doutora e pesquisadora em Comunicação, Saúde e Políticas Públicas, Fernanda Vasques Ferreira, é enfática: “Enquanto os gestores públicos continuarem colocando ‘o peso’ da pandemia na economia, continuarão flertando com o vírus e sendo os responsáveis pelas mortes evitáveis”.

População indígena

A desigualdade de acesso a testes e ao sistema de atenção à saúde agrava ainda mais a pandemia no estado e na macrorregião de Campo Grande, atingindo populações vulneráveis. “Outro aspecto a ser considerado nos resultados encontrados é a quantidade de população indígena acometida pela doença e que vieram a óbito. Do total de casos confirmados até 15 de agosto (23.299 casos), 6,56% correspondem a indígenas (1.529 casos). Já em relação ao total de óbitos (370 óbitos), a mortalidade de indígenas representa 10,81% das mortes (40 óbitos)”, denuncia a professora e pesquisadora da UFMS, Eva Teixeira dos Santos.

Texto: Fernanda Vasques Ferreira